Candidata do PSL que denunciou suposto esquema dentro do partido pede proteção a Moro


Cleuzenir Barbosa concorreu a deputada estadual e afirma que candidaturas femininas da legenda eram usadas para desviar dinheiro público. Ela acredita que o ministro de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio e o ex-ministro Gustavo Bebianno sabiam dos crimes.

Uma candidata pelo PSL de Minas Gerais nas últimas eleições, que denunciou o suposto esquema de desvio de dinheiro dentro do partido, pede proteção ao ministro da justiça, Sergio Moro. De acordo com ela, as candidaturas femininas eram apenas de fachada, ou seja, usadas para receber dinheiro do fundo partidário.

A professora aposentada, Cleuzenir Barbosa, fugiu para Portugal após as eleições ao perceber que estava denunciando um crime que poderia ter grandes proporções. Ela afirma que, mesmo fora do país, teme pela própria vida e a vida do filho. Por isso, em entrevista à CBN, pediu que o ministro Sergio Moro se manifeste sobre o assunto.

“Eu preciso ainda de ouvir do Ministro da Justiça o tão falado apoio às vítimas que ele daria, o tão falado apoio às vítimas aí no Brasil, vítima denunciante, que fala né. Eu tenho um filho só, meu filho vai fazer 17 anos, pela minha vida e a vida do meu filho. No caso da política, quando a vítima denuncia, a vítima não tem segurança alguma. Hoje em dia o deputado circula, deputado que hoje é ministro , circula naturalmente em Brasília e a pessoa que é vítima tem que dar um jeito de desaparecer. Eu não tenho condições pra me manter aqui, minha manutenção aqui tem sido muito complicada. ”

O CBN fez contato com o Ministério da Justiça e aguarda retorno.

Cleuzenir Barbosa fez a denúncia sobre o esquema no Ministério Público e na Polícia Militar de Minas. Ela disponibilizou áudios e fotos de conversas em aplicativos com assessores do então deputado federal e presidente do PSL, Marcelo Álvaro Antônio, atual ministro do presidente Jair Bolsonaro. Dois dos assessores pediram que ela recebesse 60 mil reais, da mãe de Marcelo, em sua conta e em seguida enviasse 50 mil para uma gráfica. Cleuzenir teve certeza que se tratava de um esquema ao perceber que estava sendo subornada pelo assessor.

“Ele ligou pra mim:
– Cê tá no banco?
– Tô no banco.
– Tem um dinheiro na minha conta, mas não é nem da mãe do deputado e nem é do fundo partidário da mulher.
Aí ele virou pra mim e falou assim: esse dinheiro é o mesmo. Aí pronto, aí eu não tive dúvida alguma. Disseram que eu podia ficar com 10 mil pra eu fazer o que eu quiser. Então outra coisa que não batia era isso, porque dinheiro público não é pra gente fazer o que a gente quer”.

Um dos assessores de Marcelo Álvaro, teria colocado uma arma em cima de uma mesa enquanto conversava com Cleuzenir sobre os repasses da campanha. Ela diz que tentou denunciar o esquema a pelo menos seis pessoas do PSL próximas a Marcelo, mas que ele era sempre blindado.

“Ameaça ficou clara. Quando eu decidi que eu não participaria do esquema, de cara eles em excluíram do grupo de candidatos. De cara pararam de falar comigo e cortaram todos os meus contatos com o deputado Marcelo Álvaro. Ligava para o gabinete de Brasília, ligava para Belo Horizonte, mandava mensagem no privado, ligava para todos os assessores dele e ninguém colocava eu pra falar com eles, pra eu contar a história do que estava se passando e para eu estar com ele. Então, a partir desse momento aí, pra mim, é ameaça. Tipo, você falou demais e vai sofrer por isso, né?”

A professora aposentada acredita que Marcelo Álvaro, sabia de todo o esquema. Assim como o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que era presidente nacional do PSL, durante a campanha.

“Eu acho assim, que se um chefe não para pra ouvir uma situação dessa, ele está no mínimo sendo conivente com a situação. Estava confortável, entendeu?
– Repórter: Você acredita que ele também sabia, você chegou a ter algum contato com ele, Cleuzenir?
– Com o Bebiano? Possivelmente. Quem enviou o dinheiro pra mim foi o Bebiano.
– Repórter: Os 60 mil?
– Sim, foi o Bebiano, que é o fundo do partido, foi o Bebiano.”

A CBN tenta contato com Gustavo Bebianno.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio informou por meio de nota que tomou conhecimento da denúncia por lideranças partidárias e determinou que ela fosse apurada. Ainda de acordo com o então deputado, a denunciante foi chamada a prestar esclarecimentos em diversas ocasiões e nunca apresentou provas. O ministro argumenta que o boletim de ocorrência sobre as supostas ameaças seria incoerente.

Ele afirma também que Cleuzenir foi aposentada por sentença judicial que reconheceu distúrbios psiquiátricos incapacitantes. Marcelo Álvaro acusa a professora de repassar dinheiro de campanha a seus familiares, como marido, irmão e sobrinho.

A ex-candidatada afirma que se aposentou por sofrer com artrite reumatoide, uma doença que faz o paciente sentir dores o tempo todo. Sobre repasses a familiares ela diz que o único que trabalhou na campanha foi o irmão, que recebeu 4 mil reais, segundo a prestação de contas feita ao Tribunal Superior Eleitoral.

Fonte: CBN

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