“O mundo é diferente da ponte pra cá”.


“Às vezes, para mudar o mundo, só precisamos de um olhar diferente!”
(Márcia Signor)

 

Confesso que nunca me ocorreu escrever algo sobre o bairro no qual vivi e cresci, mas uma simples frase pichada no grêmio da centenária fábrica Constâncio Vieira, me fez refletir e olhar o bairro Bonfim por outros ângulos.

A frase “O mundo é diferente da ponte pra cá”, assinada por PP, o (a) qual é desconhecido (a) para mim, traz diversos olhares particulares na forma de ver o mundo, no bairro que foi por muito tempo marginalizado pela sociedade, mas que continua lá… Resistindo… Existindo.

Ali onde a vida passa bem devagar para alguns e em fração de segundos para outros, pude observar, aprender e diferenciar o certo do errado. É óbvio que a família foi o alicerce para que eu pudesse estar hoje escrevendo esse texto, e não com meu nome numa lápide.

Vi amigos, conhecidos e jovens se autodestruírem, consumidos pelas drogas, bebidas e a violência. De muitos restaram apenas lembranças… Lembranças da infância, das brincadeiras de ‘manja’ popularizado hoje de corre-corre, das ‘peladas’ na quadra à beira do rio, das conversas com os amigos, dos jogos de buraco até altas horas da madrugada, das estórias horripilantes da finada Dona Teté, onde dezenas de crianças se sentavam na calçada para ouvi-las, dos ensinamentos da minha saudosa avó Josefina e sua paixão por plantas, que se amontoavam aos montes em casa. De acordo com ela, muitas plantas eram para utilizar nas rezas que fazia sempre que alguém estava doente. Meu irmão Mantena é prova viva do poder da Fé de vovó.

Mas indo direto ao assunto… O que torna o Bonfim diferente? É simples. Talvez… Quase certeza rsrsrs, é o bairro mais hospitaleiro e fiel às raízes e à identidade da Cidade Jardim. Quem vive aqui não quer ir para outro lugar… Lógico que sempre há ‘raras’ exceções. Mas no geral… É um bom lugar para viver. Poderia ser ainda melhor, se tivesse recebido investimentos pelos gestores públicos que já passaram. Mas por outro lado, é um bairro culturalmente forte. Aqui temos quadrilhas, batucadas, músicos, dançarinos, poetas, fogueteiros e os mais variados tipos de cultura popular. Os fogos na Avenida Senhor do Bonfim mantém uma tradição de décadas com guerras de Buscapés e corridas de Barco de Fogo no período junino. Foi na Rua Pedro Francisco do Nascimento que surgiu o Arraiá e o Bloco Capim-Tá-Mole, que animou o bairro Bonfim em 2005 e toda a cidade de 2006 a 2012, sempre com alegria, animação e segurança. Foi aqui também que tivemos importantes clubes de Futebol Amador, como o Atlético Clube Bonfim, sob a direção de José Francisco do Nascimento e a Sociedade Desportiva Bonfiense, sob os comandos de Jones Soares e Cláudio Hiroshy. Aqui tem também uma das mais tradicionais corridas de rua de Estância, “A corrida do dia dos pais”, realizada por Wellington Cabelereiro.

É um bairro secularmente industrial, centenas de famílias tiravam e tiram seu sustendo das fábricas do Grupo Constâncio Vieira, sem desmerecer as outras fontes de renda local. É aqui que estão dois dos melhores restaurantes da cidade, o Atlântico e o Barriga’s Bar, onde você pode degustar os melhores pratos de mariscos e peixes que possa imaginar. Aqui também temos um dos maiores eventos religiosos do município, a Procissão do Senhor do Bonfim, protetor e padroeiro do bairro, que através de novenas e campeonatos de futsal simultâneos (na quadra à beira do rio), mantém uma tradição histórica, além da Procissão do Senhor do Bonfim no último domingo de janeiro, onde um tapete de pó de serra é enfeitado pelos moradores para saudar e celebrar o padroeiro na Avenida Senhor do Bonfim.

Mas como nem tudo são flores, em 2009, uma forte enchente provocada pelas intensas pancadas de chuva, fez transbordar o Rio Piauitinga, derrubando a ponte construída para passagem do imperador D. Pedro II, a quadra esportiva e algumas casas. Com o tempo, a ponte foi reconstruída, estabelecimentos e casas também, mas a quadra esportiva que era o lazer dos “boleiros” até hoje não foi reconstruída… É lamentável, pois muitos jovens tinha no esporte o refúgio para não aderir à marginalidade tão presente na nossa cidade.

Particularmente, amo o Bonfim, não sei se pelos laços familiares, se pelos amigos, se pela diversidade cultural, se pela hospitalidade, se… não sei… Só sei… “Que o mundo é diferente da ponte pra cá”.

 

Cláudio Hiroshy

Poeta, compositor, editor e redator do portal Entre Notícias

 

 

 

2 comentários ““O mundo é diferente da ponte pra cá”.

  1. Carlos disse:

    Boa noite amigo. Que matéria é essa cara. Escreva mais e edite o seu livro. Parabéns por trazer essa reflexão sobre este lindo bairro. … valeu Hiroshy Carlos Gomes

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.