O poeta das ruas


Para quem não conhece a história emocionante de Raimundo Arruda Sobrinho, vem com a gente, vamos te contar cada detalhe das páginas que também queremos escrever na vida de outras pessoas que estão na situação que ele já esteve: morador de rua, conhecido como mendigo.

Raimundo chegou a São Paulo com 23 anos. Foi jardineiro e vendedor de livros. Viveu por 35 anos na rua, sendo 18 no mesmo local. Ele vestia-se de sacos de lixo pretos e, por ter problemas para se locomover, passava boa parte do dia em um banquinho de madeira escrevendo poemas em seu caderninho e sem ser respeitado pelas pessoas que passavam ao seu redor e o julgavam como louco.

E isso aconteceu durante todos esses anos até que Shalla Monteiro, em maio de 2011, começou a plantar MaraVida na história de Raimundo. Ao passar por ele, ela resolveu dedicar um pouco do seu tempo para conhecer o velho homem que estava esfarrapado na rua. Uma surpresa aconteceu: ela descobriu que ele tinha o sonho de publicar um livro e ao ler suas poesias, a moça ficou encantada, apaixonada e com vontade de mudar a realidade dele.

Zuckerberg tem responsabilidade nisso!

Recorrendo para o Facebook, Shalla criou uma página e começou a postar os textos e realidades do seu querido e mais novo amigo. BOOOM! De repente, de uma hora para outra a página viralizou, estava em todos os lugares possíveis e imagináveis, todo mundo começou a acompanhar a história daquele velho barbudo com dom para escrever.

Então o telefone de Shalla tocou, era de um DDD diferente, lá de Goiais – Cidade Natal de Raimundo. Ao atender era um rapaz que se apresentou como irmão dele. Não demorou muito e as pressas Francisco veio para São Paulo para encontrar e conhecer o irmão mais velho – Já que Raimundo sumiu quando ele tinha apenas 6 meses.

Como era de se esperar, Raimundo não quis voltar com o irmão para casa… Conseguimos entendê-lo, o receio pelo desconhecido, pela dependência, pelo trabalho que daria a alguém que acabara de reconhecer como sangue do seu sangue. Entre idas e vindas, Raimundo se mudou, mudou-se e transformou seu futuro sem esquecer da amiga que ganhava ali um papel de anjo na sua trajetória.

Shalla conta que durante todo o período que passou com Raimundo, muitas pessoas levavam doações para ele, tais quais não usufruía de nenhuma… Ele guardava para repassar para outras pessoas na mesma situação que a dele e mais do que isso: ele nunca pedia nada para ninguém, sua intenção era apenas escrever e ajudar aos necessitados.

A homenagem e realidade social cravada nas paredes de São Paulo

Ano passado, o famoso grafiteiro Eduardo Kobra,  fez um mural no bairro da Vila Madalena, retratando a história de Raimundo.

Dividindo em duas partes ele deixou a primeira com diferentes tons de cinza, preto e branco, mostrando a aparência que Raimundo tinha quando vivia nas ruas. Ele ostentava um chapéu pontudo e tinha cabelos e barba longas. Na segunda parte, super colorida, mostra os efeitos do reencontro do morador de rua com os entes queridos. Nesta nova fase, Raimundo tem um novo corte de cabelo. Sua expressão é mais serena e é possível perceber um sorríso tímido. Exatamente como o ex-morador de rua se encontra hoje.

 

O sonho do MaraVida

Assim como Shalla, acreditamos que é possível mudar o condicionamento que o tempo, sociedade e sistema trouxeram para tantas pessoas em situação de rua. Queremos e já estamos em processo de conseguir reconquistar a dignidade para alguns idosos que vivem nessas circunstâncias.

Descobrimos no meio do caminho que diferente de alguns públicos, eles podem dividir o mesmo “espaço”, mas são altamente heterogêneos! Dentro essas particularidades o MaraVida tem aprendido a olhar cada história a fundo , reconhecendo as necessidades, os sentimentos e uma latente humildade que enche nossos pulmões de inquietude e o coração com o sonho de transformar muitos “cidadãos Raimundos” para um mundo melhor, maior, mais feliz e íntegro.

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