Omitir que a ditadura no Brasil também foi civil, além de militar, é um desserviço à memória e passa pano para a classe dominante


No dia 01 de abril, é popularmente celebrado o “dia da mentira”, e por ironia do destino, na madrugada desse dia foi instaurada a famigerada ditadura CIVIL-MILITAR no nosso país. Embora, tenha se registrado o dia anterior, 31, como data oficial, o que é nesse caso oficialmente uma mentira. É fato que a ditadura brasileira teve como pano de fundo uma grande mentira: supostamente impedir uma ditadura comunista no Brasil. E até hoje há quem acredite ou quem reproduza essa balela conveniente, já que se sabe hoje que nem mesmo os militares na época acreditavam de verdade nisso. E não precisamos fazer muito esforço pra tomar conhecimento de um forte movimento de historiadores e jornalistas neste período democrático atual, de que a ditadura só foi possível porque teve suporte e atuação de uma extensa parcela da sociedade civil, demonstrando assim que a ditadura não foi apenas militar como teimam alguns.

Conservadores e liberais na época, por exemplo, viram na ditadura uma oportunidade para manterem seus privilégios, enquanto sufocava literalmente um forte e crescente movimento social, trabalhista e democrático, que insurge com a força de uma nova Primavera chegando para florescer a paisagem e preparar os frutos que alimenta a humanidade. E a resposta foi brutal, com participação de uma cadeia de grandes empresários, agentes internacionais e os mais tradicionais setores da Grande Imprensa Brasileira, esta que com seu histórico, que passa por condenar a ideia da abolição da escravatura, ao defender interesses de grandes fazendeiros na época da escravidão dos negros e negras, até chegar na ditadura, apoiando e escondendo as atrocidades e abusos cometidos contra a população, desprezando, perseguindo e abafando as vozes do povo que se erguiam naquele momento, para agir de acordo com seus financiadores e naquilo que os algozes dos trabalhadores e trabalhadoras ordenaram. Chamou-se de “Chapa-Branca” a imprensa que só servia aos poderosos, enquanto o regime perseguia, matava e destruía seus opositores, a exemplo dos chamados “nanicos” ou subversivos.

Grandes empresas do setor automobilístico viu na ditadura uma forma de impedir os trabalhadores sindicalizados de conquistarem seus direitos, tendo Lula como um dos grandes líderes emergentes na época. Bem como setores dos transportes e da energia, incluindo estatais. Ford, Volkswagen, Toyota, GM, Brastemp, Caterpillar, Telesp, Embraer e Petrobrás, são apenas alguns exemplos destas empresas.

Houveram até mesmo artistas que colaboraram com o regime ditatorial, óbvio que certamente a grande maioria contestou, mas houve quem se beneficiou passando pano, criticando mecidiyeköy escort colegas e até mesmo delatando, em troca de privilégios e favores que poderia ser um emprego para algum familiar, seja esposa, irmão, filho, ou até mesmo para ocupar cargos de direção e secretariado, já que o regime precisou ter seus aliados de confiança.

E o contrário também é verdadeiro, já que vimos nos movimentos de resistência, militares que combateram e enfrentaram o regime da ditadura, aderindo inclusive a luta armada, como foi o caso do Capitão Carlos Lamarca, guerrilheiro que foi morto na Bahia pela ditadura aos 33 anos, em 1971… Outro guerrilheiro bastante famoso foi o baiano Carlos Mariguella, que chegou a ser considerado inimigo número um da ditadura, sendo covardemente assassinado em 1969. Negro, poeta e revolucionário, Mariguella deixou sua marca na história, dentre suas obras mais divulgadas está o “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”.

Portanto, conhecer a história, respeitar a memória é respeitar sobretudo o legado daqueles que lutaram e muitos que até perderam a vida pela democracia e pela liberdade. Sendo assim, entender que a ditadura foi civil além de militar é um grande passo para passarmos nosso passado a limpo e construirmos um novo amanhecer, com mais direitos e mais democracia.

“(…)E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome.”
Rondó da Liberdade, Carlos Mariguella.

Para que não se repita e que nunca mais aconteça… DITADURA NUNCA MAIS!

Por Bira Palmarino

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