Cleptocracia assintomática e viral


“Não existe democracia onde impera a corrupção, a injustiça, a mentira e a hipocrisia”.

(Mauro Roberto)

 

Não é de hoje, o deleite do homem por vantagens, riqueza e poder.

Desde o surgimento do homo sapiens, entre 400 mil e 100 mil anos atrás, que o homem vivia em constante disputa pela sobrevivência, especialmente pelo poder; por aquela oportunidade de dominar o espaço e se sentir ‘o soberano’.

Com o passar do tempo, o homem, foi percebendo as benesses de ganhar vantagem sobre o outrem. Ficou mais esperto, ardiloso e cauteloso. As eras cronológicas foram passando e a sabedoria maléfica foi se aprimorando, dando-lhe um nível elevado em ações engenhosamente corruptas.

Apesar dos elevados índices de corrupção dentro da máquina pública, ela se alastrou dentro das grandes corporações privadas, que há séculos usurpam o erário brasileiro e internacional. É uma doença global, um câncer que destrói nações, sendo mais assintomática nos países subdesenvolvidos da África ‘subsidiariana’, deixando milhões de pessoas em condições de extrema pobreza.

Segundo a ONG Transparência Internacional, dos 176 países pesquisados, a Somália, país que vive em constante conflito interno, ocupa a última posição (176ª), estando no grupo dos países mais corruptos do mundo, que ainda conta com outros países africanos, a exemplo de, o Sudão que ocupa a 175ª posição. Dentro do levantamento divulgado pela ONG, o Brasil piorou três posições no Ranking Internacional da Corrupção de 2015 para 2016, saindo da 76ª para a 79ª posição, ficando empatado com Bielorrússia, China e Índia. Ainda de acordo com a mesma ONG, a corrupção causa uma enorme desigualdade social, prejudicando diretamente a aplicação de políticas públicas para a melhoria da população. Há um déficit enorme de investimentos em diversas áreas, principalmente na educacional, que é a chave principal para a prevenção de práticas corruptas.

A mídia nacional utiliza a Operação Lava Jato, para passar a imagem que a corrupção é unilateral e exclusiva do PT. Mesmo com diversas denúncias, grampos e vídeos envolvendo grandes partidos como PMDB, PSDB e DEM. Ainda assim, da mesma forma que a corrupção não é unilateral, também não se estende apenas aos quatro partidos citados, expandindo-se a muitos outros. Segundo o historiador Leandro Karnal, a corrupção é multilateral e afeta quase todos os partidos.

“Àqueles que acreditam que a corrupção está a cargo de um partido são pessoas muito felizes. São pessoas que substituíram cultos do Papai Noel e do coelhinho, pelo culto da corrupção isolada”, disse Karnal.

Não há dúvidas que, de 2003 para cá, a corrupção se tornou notável, ganhou centenas de manchetes e capas de revistas, porém, foi a partir deste ano que medidas de combate à corrupção e o controle da máquina pública efetivaram-se. Dois exemplos práticos são a PGR – Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal que ganharam autonomia e, receberam investimentos e valorização para executar o trabalho investigativo, disse o procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima. Segundo ele, “os governos anteriores controlavam as instituições de investigação”. Dessa forma, diversos casos de corrupção eram simplesmente engavetados. Em 28 de maio de 2003, através da Lei nº 10.683, foi criada a Controladoria Geral da União – (CGU), que é uma típica agência anticorrupção no país.

Para Zygmunt Bauman, um dos mais importantes e influentes filósofos e sociólogos contemporâneos, as instituições políticas estão esfaceladas e apresentam um ‘déficit perpétuo de poder’, o que fragiliza a representatividade política. “Simplesmente perdemos a fé em nós mesmos. É o fim do futuro”, disse Bauman.

Diante dessa análise, percebemos que existe nas pessoas, uma dúvida; uma falta de crença nos políticos; uma desesperança de país civilizado; uma negação da política não importando a visão ideológica de fulano, beltrano ou sicrano. O ódio destilado por boa parte da população contra políticos atinge a ‘direita’, o ‘centro’ e a ‘esquerda’. Mas vale ressaltar que, geralmente, um governante é o reflexo dos seus governados e para Leandro Karnal existe uma similitude entre ambos. “Não existe governo corrupto numa nação ética e não existe nação corrupta com um governo transparente e democrático”, disse Karnal. É o vírus da corrupção espalhado no furo à fila do banco, no assento demarcado para idosos, na sonegação de impostos, no jeitinho brasileiro, enfim, na hipocrisia generalizada.

Essa descrença se deu, justa e unicamente, pelo simples fato das pessoas verem no político, um corrupto; alguém que está num determinado espaço de poder para roubar e enriquecer devido os altos impostos pagos pelo povo. Mas, o pior é que a corrupção, principalmente no Brasil, é como um vírus e, àqueles que não são imunizados pela ética-moral dos bons costumes ainda no berço familiar, são contaminados pela ‘mosca azul do poder’ para locupletar-se.

É amoral e aético não só apropriar-se do erário, como fazer acordos espúrios com instituições privadas, nacionais ou multinacionais, com o mero objetivo de obter vantagens indevidas fora do país. Foi o que aconteceu com muitos políticos que montavam esquemas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Estes usavam doleiros especialistas em enviar aos paraísos fiscais, milhões de dólares, como fizeram Paulo Maluf e Eduardo Cunha (só para citar alguns) e muitos outros investigados pela Polícia Federal.

Voltando a vulnerabilidade representativa, temos um governo sem aprovação popular, com míseros 3,4%, conforme a última pesquisa CNT/MDA, em setembro/2017. Um presidente, delatado diversas vezes e denunciado pela Procuradoria Geral da República – PGR, com acusações gravíssimas de corrupção ativa e passiva é sustentado por um congresso conservador, vendido e chantagista. Recentemente o operador financeiro Lúcio Funaro, em ‘delação’ afirmou que “o Presidente Michel Temer e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, conspiravam diariamente e tramavam para derrubar a presidente Dilma Rousseff com o impeachment”.

Diante de tais acusações, Temer já poderia ter sido afastado, porém, esconde-se atrás das togas do Supremo, que do topo da pirâmide, assiste inerte às sucessivas denúncias contra o presidente Temer, reforçando a tese da esquerda que houve um Golpe com participação direta do congresso, da grande mídia, corporações e possivelmente do STF, conforme áudio em que Romero Jucá e Sérgio Machado, sugerem um ‘acordão’ para tirar Dilma e barrar a Lava Jato. “Com a Dilma não dá. Tem que colocar o Michel num grande pacto nacional, junto com o STF”, disse Jucá.

Parece que o ‘plano perfeito’ está dando certo, recentemente a procuradora-geral Raquel Dodge, nomeada por Temer para o cargo máximo da Procuradoria Geral da República (PGR) no lugar de Rodrigo Janot, baixou uma portaria trocando quase toda a equipe de procuradores da PGR na Operação Lava Jato. Talvez agora Temer consiga respirar, mesmo que temporariamente, junto com o escudeiro Jucá.

Dessa forma, podem continuar fazendo o que sempre fizeram… Conspirar, enganar e usurpar o povo brasileiro.

 

Cláudio Hiroshy

Poeta, compositor, editor e redator do portal Entre Notícias.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.