O RACISMO MATOU GENIVALDO DE JESUS SANTOS
Muita gente se pergunta como foi possível ter acontecido o holocausto, como pessoas conseguiram praticar tanta crueldade contra irmãos da própria espécie… E a resposta passa por um processo perverso e intencional de desumanização completa, com muita propaganda, alienação e naturalização do ódio. Um ódio que fica enraizado e se alastra na estrutura do pensamento, seja de quem oprime, como também de quem é oprimido. Qual o paralelo que podemos fazer com a realidade e a história brasileira? É óbvio que estamos falando da escravidão do povo negro, que perdurou por séculos de super exploração da mão de obra, mercantilização dos corpos, perseguição, anulação, inferiorização e violências das mais sinistras que o ser humano foi capaz de produzir. Essa é a força do racismo que preserva o desprezo pelas vidas negras, o desprezo pela dor, pelo sofrimento e pela vida de Genivaldo de Jesus Santos, que gritava por sua vida enquanto agonizava sufocando com a fumaça no porta-malas da viatura ou do seu navio negreiro… pobre infeliz, brutalmente morto por agentes do estado, aqueles que deveriam cuidar e proteger. E para quem acha ainda que não tem nada a ver com o racismo, os Racionais MC’s deu a letra do Negro Drama: “olha quem morre então! Veja você quem mata!”. Vai vendo.
O Brasil foi o último país do planeta a “abolir” formalmente a escravidão, só isso já diz muito. Porém, como diz a sabedoria popular: o buraco é mais embaixo. Bem fundo mesmo. O problema da abolição oficial da escravidão no Brasil é grande, na verdade serviu pra criar um fosso abissal entre negros e brancos, porque não houve reparação nenhuma, simplesmente o país entregou a população negra a própria sorte, às margens da sociedade e de um capitalismo que se ergueu às custas de sangue negro e indígena, produzindo aquilo que o professor Dennis de Oliveira chama de cidadania restrita ou subcidadania, ou seja, cidadãos de primeira (brancos) e de segunda categoria (não brancos), a desigualdade social que também é racial. Essa é a raíz da desigualdade e a jovem democracia ainda não foi capaz de resolver essa situação, e pior, do jeito que está, a nossa combalida e golpeada democracia tem servido para aprofundar ainda mais nossa tragédia social, além de legitimar a manutenção do racismo em todas suas facetas, estrutural, institucional, religioso, simbólico. Contudo, o veneno também pode ser o remédio, pois não há saída plausível das nossas crises fora da democracia. A democracia precisa, entretanto chegar nas periferias e ter a cara do povo! Preto é chave! A população preta é parte da solução e não o problema, precisamos de mais democracia, não menos. Representatividade importa. Contudo, não existe democracia quando não se tem ao menos o direito de continuarmos vivos.
Genivaldo se foi, deixará muita saudade especialmente para sua família e seus amigos, fica aqui o grito de revolta, o clamor pela justiça para que este terrível fato como tantos outros não fique impune. O racismo é um câncer e precisa ser enfrentado e combatido de verdade para podermos interromper esse genocídio cruel, enquanto isso a marcha fúnebre prossegue. Deixo aqui meus sentimentos. E a pergunta feita pela companheira Marielle Franco um dia antes de sua morte: “quantos mais precisarão morrer?”
#JustiçaparaGenivaldo #somostodosGenivaldo
#VidasNegrasImportam
Bira Palmarino