O ‘ultraconservadorismo’ e a indignação seletiva ameaçam a soberania nacional


  1. “Existem guerras perpétuas, mas não batalhas infindáveis”.

Cesar Jihad (Vulto Madhiba)

 

Sempre que um período eleitoral se aproxima, direita e esquerda, começam um ferrenho duelo de teses, ideias e ações, não só nos tradicionais meios de comunicação e redes sociais, mas, em rodas de conversas, debates, manifestações e nos mais variados campos de discussão. No entanto, nos últimos anos, os debates estão sobrepujando o campo da diplomacia, chegando ao ódio de classes, a segregação racial, a homofobia, a intolerância religiosa, a xenofobia e muitas outras ‘fobias’ típicas do conservadorismo extremista.

Foi François-René Chateaubriand, em 1818, que utilizou pela primeira vez o termo “conservadorismo” dentro de um contexto político. Chateaubriand procurou reverter às políticas da Revolução Francesa associando-o originalmente à política de direita. Muitos historiadores definem-no como uma filosofia política e social, mas, Quintin Hogg, presidente do Partido Conservador britânico em 1959, reconhece que “o conservadorismo não é tanto uma filosofia, mas uma atitude, uma força constante, desempenhando uma função intemporal no desenvolvimento de uma sociedade livre e correspondente a uma exigência profunda e permanente da própria natureza humana”, disse Hogg. No entanto, é contradita veementemente por intelectuais de esquerda, que veem no conservadorismo elitista uma fonte inesgotável de desigualdade. A principal carência das elites é a desigualdade social”, disse o poeta Eduardo de Paula Barreto. Mais longe ainda, vai o filósofo Terry Eagleton que faz um relato do pensamento de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo e teórico político;

“Jean-Jacques Rousseau afirma em seu discurso sobre ‘A Origem da Desigualdade’ que a propriedade traz em seu rastro a guerra, a exploração e o conflito de classes. Insistia, ainda, que o chamado contrato social é uma fraude perpetrada pelos ricos contra os pobres a fim de proteger seus privilégios”, disse Eagleton.

 

É preocupante como esse ‘movimento extremista’ vem crescendo assustadoramente no mundo inteiro, visivelmente impulsionado pelo capital financeiro. A sinopse desse movimento é de fácil observação não só no Brasil, mas na Europa e nas Américas, sem esquecer a história das colonizações nos países africanos que mataram milhões de pessoas.

Na França, com o resultado da eleição presidencial, onde Emmanuel Macron que é um centro-direitista derrotou no segundo turno Marine Le Pen, uma candidata da extrema-direita, ficou evidente que o ‘capital’ está dominando nações e pautando governos. É um fenômeno que planeja o extermínio da esquerda e é diuturnamente financiado por grandes corporações onde apenas o lucro interessa.

Na Alemanha, o partido conservador de Angela Merkel, o União da Democracia Cristã, saiu vitorioso das eleições com 32,9% dos votos. Porém, um partido ultraconservador nacionalista de direita, o AfD, que defende a expulsão de imigrantes que estão legalmente na Alemanha, teve 14% dos votos,  conseguindo representação direta no parlamento alemão, algo que não acontecia desde a 2ª Guerra Mundial e a derrota do nazismo. Nos EUA, o drama foi ainda maior, com o resultado das últimas eleições presidenciais e a vitória de ‘Wall Street’, representada pelo bilionário republicano Donald Trump que chegou à Casa Branca derrotando a democrata Hillary Clinton para o cargo de Presidente dos Estados Unidos.

Trump fez sua campanha baseada em ideias ultraconservadoras, carregadas de ódio e indiferença, por negros, gays e imigrantes, especialmente os de origem mulçumana. As raízes conservadoras em Donald Trump são tão profundas que o faz cometer absurdos, como prometer construir um muro em toda fronteira mexicana impedindo a entrada ilegal de imigrantes nos EUA e ameaçar destruir totalmente a Coréia do Norte, após os devaneios de Kim Jong-un e seus testes com mísseis.

Nos últimos dias o maior terremoto da história de categoria 7,1 na escala Richter deixou centenas de mortos e feridos no território mexicano, um caos absoluto que atormentará os mexicanos por um longo tempo e apenas seis dias após o desastre foi que Trump ofereceu ajuda aos mexicanos. Diferentemente, quando o furacão Harvey atingiu o Texas, nos EUA, a Cruz Vermelha mexicana prontamente em um gesto de humanidade enviou equipe de voluntários bilíngues, veículos e mantimentos para socorrer o povo americano.

Na América do Sul, o conservadorismo também tem crescido e obtido êxitos eleitorais. Na Argentina, por exemplo, Mauricio Macri derrotou o candidato Daniel Scioli. No entanto, a gestão conservadora de Macri, tem ficado cada vez mais distanciada das políticas sociais implementadas por Cristina Kirchner, destruindo a economia que apresenta níveis inéditos de endividamento, com uma dívida pública em torno de US$ 200 bilhões e a pior inflação dos últimos 25 anos. No Brasil, tanto o conservadorismo quanto o ultraconservadorismo, também têm ganhado força, agregado seguidores e simpatizantes, que com uma indignação seletiva sem tamanho, induzidos por uma ‘imprensa marrom’, descarregam no Partido dos Trabalhadores toda a carga de corrupção do país, esquecendo que foi justamente nos governos petistas que o combate à corrupção foi levado a sério, com a autonomia aos órgãos fiscalizadores e investigativos.

Para os hipócritas e indignados de plantão, o país encontra-se num caos por culpa do PT, e com esse discurso seletivo, fortalecem a ‘extrema direita’ com a ideia de novo Golpe, não bastasse o “civil-judiciário”, agora querem também o militar. Para a direita é só um jogo de poder, onde querem impedir a esquerda de jogar.

O deputado federal Jair Bolsonaro, que diversas vezes se mostrou a favor de uma intervenção militar, tanto é, que na votação do impeachment da presidenta Dilma, homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, “o pavor de Dilma Rousseff”, disse Bolsonaro, em alusão a Ustra ter sido o torturador de Dilma durante a ditadura, apresenta agora um discurso contrário a uma possível intervenção militar. O motivo é simples, na última pesquisa CNT/MDA de setembro/2017, o deputado Jair Bolsonaro, aparece nas pesquisas com apenas treze pontos percentuais atrás do ex-presidente Lula, deixando Marina, e quem quer que seja o candidato do PSDB fora do páreo e, como não é bobo, conta ainda, com um possível impedimento do ex-presidente Lula nas eleições de 2018 que venceria em todos os cenários. Diante do possível impedimento, Bolsonaro torce para um segundo turno, entre a direita e a extrema direita, o que lhe daria grandes chances de vitória. É a ‘mosca azul’ do poder contaminando os poucos ‘princípios’ do “Bolso-gogozeiro”.

É mais que evidente que o país está em frangalhos e com um déficit de legitimidade incalculável apesar do apoio selado, dado pelos avalistas do golpe e achacadores do congresso. No entanto, a impopularidade do presidente Michel Temer não permite que ele retome o crescimento e as agendas progressistas perdidas desde o golpismo em agosto de 2016. Com reformas retrógradas, retirada de direitos, desemprego elevado, denúncias de corrupção, perseguições a artistas e conspirações ‘a la americana’; a ponte que nos levaria para o futuro… não foi construída pelos detentores do Golpe.

O medo é tão presente quanto à incerteza de futuro. Uma ditadura não é boa para o Brasil, não é boa para os brasileiros, não é boa para o mundo. Já dizia Mario Sergio Cortella: “Numa ditadura, não daria para fazer uma passeata pela democracia. Na democracia, você pode fazer uma passeata pedindo a ditadura”.

Está bem claro que um alerta se acende com essa possibilidade de ameaça a soberania nacional. É preciso resistir, debater, denunciar e lutar para defender a liberdade democrática.

 

Por Cláudio Hiroshy

Poeta, compositor, editor e redator do portal Entre Notícias

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