Iran Barbosa: “Não foi através da militância partidária que eu estabeleci os vínculos de confiança que tenho até hoje”


Iran comenta como está a sua relação com os profissionais da educação e o que mudou especificamente na sua trajetória, após a mudança de partido

Recém filiado ao PSOL, o deputado estadual Iran Barbosa, conta como tem sido a sua recepção no novo partido e garante que está bastante confortável e otimista. “Tenho sido extremamente bem acolhido pelos amigos e amigas do meu novo partido, o PSOL. Muitos são camaradas que já partilharam e continuam partilhando comigo lutas que travamos em diversas trincheiras comuns. Alguns já estiveram, inclusive, assim como eu, no PT”, explica o professor que já foi eleito vereador de Aracaju, deputado federal e estadual por Sergipe, e é candidato à reeleição.

Iran comenta como está a sua relação com os profissionais da educação e o que mudou especificamente na sua trajetória, após a mudança de partido. Além disso, aproveita para opinar, ainda que timidamente, sobre a configuração política dentro do PT no estado, com a saída de grandes lideranças do partido. “O PT é um partido muito forte e tem uma solidez nacional que lhe dá bastante musculatura”, diz. Neste seu mandato como deputado estadual, Iran tem se destacado por importantes conquistas sindicais e, nesta entrevista, ele fala sobre algumas delas. “Eu tenho sido extremamente vigilante em relação à política que defendo, voltada para a valorização profissional dos servidores públicos e da minha categoria, o magistério”. Confira abaixo o bate papo completo realizado no gabinete do deputado.

JC MUNICÍPIOS – Há pouco mais de um mês de filiado ao PSOL, seu novo partido pelo qual pretende disputar a reeleição, o que está achando da “casa nova”? O que mudou especificamente na sua trajetória?
IRAN BARBOSA – Tenho sido extremamente bem acolhido pelos amigos e amigas do meu novo partido, o PSOL. Muitos são camaradas que já partilharam e continuam partilhando comigo lutas que travamos em diversas trincheiras comuns. Alguns já estiveram, inclusive, assim como eu, no PT. E essa boa acolhida é fruto de muitas identidades que já nos aproximavam. Trabalharei para avançarmos, cada vez mais, na perspectiva dessa unidade em busca da conquista de um projeto de sociedade pautado nos princípios classistas, socialistas, que assegure protagonismo ao povo trabalhador e que agregue forças para superarmos este momento de ataques às conquistas civilizatórias que as nossas lutas obtiveram. A minha trajetória se mantém na mesma linha e a mudança de partido busca preservar, cada vez mais, essa linha política que construo desde a minha juventude.

JC MUNICÍPIOS – A sua militância como professor e como membro ativo do Sintese, sindicato que o projetou nas lutas políticas nos anos 90, lhe deixou marcas importantes para a população sergipana, que até hoje ainda o identifica pela sua ligação com os profissionais da educação. Essa troca de partido muda alguma coisa? Como está a sua relação com a categoria?
IRAN BARBOSA – A minha identidade com o magistério sergipano tem a ver com o fato de que eu divido com todos os meus colegas de profissão as dores e os prazeres das vivências e experiências do chão da escola e está relacionada ao fato de que eu me constituí como homem público, ao lado da minha categoria, na organização das lutas sindicais que nos levaram a conquistas importantes que hoje estão sendo totalmente desfiguradas por governantes descomprometidos com a Educação. Foi militando juntos que conquistamos nosso Estatuto, nosso Plano de Carreira, nosso Piso Salarial e tantos outros marcos legais que agora foram desfigurados. Essa construção e essa identidade com o magistério se deram independentemente de filiação partidária. Não foi através da militância partidária que eu estabeleci os vínculos de confiança que tenho até hoje com a minha categoria. Apenas no ano de 2002, após a construção de laços muito fortes com a luta pela Educação e com os educadores é que eu inicio minha militância partidária. Portanto, tenho convicção de que a nossa relação seguirá sendo muito forte, porque o magistério sergipano sabe que a minha dedicação à luta por nossos direitos não se altera em função da sigla partidária em que eu milito. Minha opção pela defesa intransigente dos nossos direitos está relacionada a minha condição de classe e não a minha filiação partidária. É por essa razão que, independentemente do governante de plantão, eu me posiciono sempre ao lado dos interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras, divergindo, em alguns momentos, das posições dominantes no meu próprio partido. Foi por isso, por exemplo, que na última eleição eu fui impedido de aparecer nos programas eleitorais gratuitos de rádio e televisão, sendo bastante prejudicado em minha campanha, porque não segui a definição partidária de apoiar a candidatura do atual governador. Foi por isso também que, quando integrei a equipe de secretários do governo Marcelo Déda, fiz uma opção por entregar o cargo de secretário, quando o governo, que era do meu partido, à época, decidiu iniciar o processo de desmonte da política de piso salarial vinculado aos direitos da carreira. Minha relação com o magistério segue sendo, portanto, independentemente de filiação partidária, muito sólida.

JC MUNICÍPIOS – Aqui em Sergipe, o Partido Trabalhadores tem perdido, nos últimos anos, quadros importantes da sua história. Nomes como o de Ana Lúcia (se aposentou), Conceição Vieira e Francisco Gualberto (trocaram de partido), e o senhor seguiu o mesmo caminho, deixando o PT. A que atribui a saída de grandes lideranças do partido neste momento atual? E como acredita que fica a configuração política dentro do PT no Estado? IRAN BARBOSA – O PT é um partido muito forte e tem uma solidez nacional que lhe dá bastante musculatura. A dinâmica em relação à saída de integrantes dos seus quadros de filiados, faz parte de um processo que é muito comum na existência partidária. Saem filiados, mas ingressam novos. Essa dinâmica certamente dará o tom da sua nova configuração em nosso Estado.

JC MUNICÍPIOS – Como o senhor encara uma disputa eleitoral filiado a um partido que possui duas candidaturas fortes e competitivas à Alese? O estanciano de boa base eleitoral, Márcio Souza (PSOL), e a vereadora de Aracaju mais votada na campanha de 2020, Linda Brasil (PSOL), não te desanimam ou, pelo contrário, apenas somam?
IRAN BARBOSA – Devo dizer que neste momento em que nós precisamos fortalecer a esquerda sergipana, fico muito feliz que tenhamos no PSOL uma construção política que resultará na formação de uma chapa com candidaturas bastante competitivas e com condições de fazer uma boa disputa eleitoral centrada em propostas que dialoguem, verdadeiramente, com os anseios populares. Isso só me anima e me estimula. Temos dialogado e iniciamos um processo de debates internos, aberto à participação de outros atores sociais, para subsidiar, coletivamente, as candidaturas do nosso partido. Isso é estimulador e muito gratificante.

JC MUNICÍPIOS – Neste seu mandato como deputado estadual, o senhor tem se destacado por importantes conquistas sindicais, a exemplo da luta pelo piso salarial do assistente social no Estado de Sergipe. Fale mais sobre o seu Projeto de Lei n ° 288/2021, que visa combater a precarização e a desvalorização que a profissão de serviço social vem sofrendo ao longo dos anos. Há algum avanço?
IRAN BARBOSA – Não têm sido poucas as intervenções do nosso mandato na busca de fazer avançar as lutas dos trabalhadores do campo e da cidade e as conquistas populares em Sergipe. O projeto de Lei n° 288/2021 integra essa plêiade de iniciativas e visa assegurar a criação de um piso salarial profissional, de abrangência estadual, que busque a valorização das assistentes sociais sergipanas, vinculando piso e jornada de trabalho e assegurando uma referência salarial para o Estado e para os municípios de Sergipe que, não raramente, praticam uma política salarial de pauperização para uma categoria profissional que tem um papel fundamental num país como o Brasil e num estado com o perfil de Sergipe, onde a pobreza e a fome seguem sendo desafios gigantescos para quem trabalha com as políticas de Assistência. Já tivemos várias reuniões com representantes do governo e a Frente em Defesa do Piso Salarial dos Assistentes Sociais tem cumprido um importante papel de mediação e, neste momento, estamos aguardando a posição oficial relativamente a essa proposta uma vez que o governo acenou com a perspectiva de incorporá-la aos ajustes que estão propondo para a Assistência Social em Sergipe.

JC MUNICÍPIOS – Outra conquista que vale a pena destacar é a Indicação nº 134/2022, de sua autoria, que propõe que o governador envie para o Parlamento Estadual Projeto de Lei com o objetivo de promover o reajuste do valor do Piso Salarial dos Profissionais do Magistério Público da Educação Básica. Qual é a importância dessa iniciativa? As tratativas com o Estado foram a contento?
IRAN BARBOSA – Eu tenho sido extremamente vigilante em relação à política que defendo, voltada para a valorização profissional dos servidores públicos e da minha categoria, o Magistério. Invariavelmente tenho apresentado emendas às peças orçamentárias com vistas a que se garantam recursos carimbados para a promoção da revisão geral anual, assegurada constitucionalmente para os salários dos servidores públicos, e para a correção anual do valor do piso salarial profissional dos profissionais da educação. Tenho defendido a política de valorização profissional dos servidores na tribuna, em entrevistas, em mesas de negociação, em atos públicos e em todos os espaços em que atuo. Infelizmente o governo do Estado abandonou há muito tempo a formulação de uma política verdadeiramente voltada para a valorização profissional de seus servidores, o que exigiria uma proposta que deveria abranger iniciativas voltadas para a garantia de condições adequadas de formação, carreira, trabalho e salário. A política que vem sendo adotada aqui em Sergipe vai exatamente na contramão de tudo isso. O governo optou por uma política autoritária que desconsidera a negociação como método de mediação para a obtenção dos anseios dos servidores e segue atacando os seus direitos e gerando uma insatisfação imensa entre os trabalhadores que atendem o povo sergipano.

JC MUNICÍPIOS – A pauta em defesa da Cultura também foi destaque em todos os mandatos para os quais foi eleito, seja como vereador de Aracaju, deputado federal e, agora, como deputado estadual. O projeto de sua autoria, de nº 327/2021, sobre Registro dos Mestres e Mestras do Folclore Sergipano, por exemplo, é uma ação bastante admirada. De que forma o senhor tem destinado recursos para essa área e procurado contribuir com iniciativas que fortaleçam esse setor?
IRAN BARBOSA – A Cultura, para o nosso mandato, é um eixo estratégico de trabalho e eu, como educador, compreendo a importância dessa política pública na promoção da formação humanística e social do nosso povo. Por isso, coloco os mandatos que exerço a serviço de ações que ataquem os altos índices de exclusão cultural que ainda prevalecem em nosso país e em Sergipe. Foi isso que me garantiu o título de “Deputado da Cultura”, quando exercia mandato na Câmara Federal. Essa forma de atuação parlamentar continua muito firme neste mandato que exerço na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, quer seja destinando recursos orçamentários, através das chamadas emendas de execução impositiva para o desenvolvimento das políticas de Cultura; quer seja apresentando proposições parlamentares, como o Projeto de Lei n° 327/2021, que trata do registro dos Mestres e Mestras do Folclore Sergipano; quer seja através de diversas outras iniciativas que visam incentivar a cultura, os artistas e toda a cadeia cultural sergipana. Esse nosso compromisso tem encontrado eco e reconhecimento por parte da classe artística e, com muita satisfação, fui recentemente comunicado que receberei do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Sergipe (SATED-SE) uma Moção de Aplauso pela nossa atuação parlamentar, colaborando com o desenvolvimento das ações daquela entidade. Isso muito nos orgulha. A mim e a todos que integram nossa assessoria parlamentar.

JC MUNICÍPIOS – A dificuldade de acesso à água potável ainda aflige boa parte dos municípios sergipanos e o senhor tem buscado mediar o contato entre as lideranças comunitárias e os gestores públicos para a superação dessa dificuldade. Como vem acompanhando o andamento das emendas parlamentares de caráter impositivo destinada para o abastecimento de água em comunidades, a exemplo de Pacatuba e Brejo Grande que recentemente te procuraram?
IRAN BARBOSA – De fato, esse é um desafio imposto aos poderes públicos sergipanos: garantir o acesso à água potável a todas as pessoas. Esse é um direito básico ainda negado a uma parcela significativa da nossa população, notadamente às parcelas do nosso povo que estão excluídas dessa condição essencial para a vida. Eu e os integrantes da assessoria do nosso mandato temos incidido de forma técnica e política sobre essa situação, dialogando com os setores do governo que têm responsabilidade com essa área e fazendo a mediação, através de visitas de trabalho nos locais afetados pela dificuldade e audiências de negociação nos órgãos governamentais, com a participação direta das comunidades interessadas. Para contribuir com a busca da mitigação desse grave problema, nosso mandato também tem destinado uma parte importante dos recursos de emendas orçamentárias de que dispõe para financiar ações de combate à falta de abastecimento de água para o nosso povo. O acompanhamento desses investimentos é permanente e é feito através de reuniões, de diálogos e de presença nos lugares onde a ação está sendo executada. Seguiremos fazendo disso uma das prioridades do nosso mandato.

JC MUNICÍPIOS – O IpesSaúde, importante serviço público referência nacional na promoção e assistência à saúde de servidores estaduais e municipais do Estado, se transformou num transtorno sem fim para muitos usuários do interior. A unidade de Estância há anos amarga a sobrevivência em um prédio sem estrutura física e com operações indisponíveis em algumas especialidades. Essa também tem sido uma luta do seu mandato. O que tem sido feito e há previsão de mudanças?
IRAN BARBOSA – A mudança da situação de abandono do Ipesaúde pressupõe a mudança completa da política de desprestígio que o governo dispensa aos servidores públicos. Na verdade, a precariedade do atendimento no Ipesaúde é uma face perversa da política de desvalorização dos servidores. No caso específico de Estância, mediamos e realizamos uma audiência com a participação de usuários do Ipesaúde e o presidente do órgão, mas os problemas seguem atormentando aqueles que dependem dos seus serviços. Devemos continuar pautando esse tema para provocar as melhorias que os mantenedores do plano esperam e merecem.

JC MUNICÍPIOS – Para finalizar, relembre a sua denúncia feita na tribuna da Alese, em agosto do ano passado, sobre o que o senhor chamou de “um verdadeiro trem da alegria” na Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc). Agora, às vésperas das eleições estaduais, como o senhor avalia essa situação? Acredita ainda que as contratações de 1.817 servidores temporários foram um procedimento equivocado do Governo do Estado para burlar o princípio do acesso ao serviço público através do concurso público?
IRAN BARBOSA – Não podemos concordar com uma política que precariza a relação entre os servidores e o Estado. Defendemos o concurso público como regra para ingresso nas diversas carreiras do serviço público. Não podemos permitir que a ampla necessidade permanente de servidores e professores na Educação seja falaciosamente resolvida com com contratações temporárias que se sucedem.

 

Fonte: Jornal da Cidade

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