Pato manco, refém do Congresso, Temer enfrenta declínio acelerado


Presidente de facto, Temer avalia suas chances sem o apoio dos tucanos, prestes a desembarcar do governo.

Por Redação, com RBA – de Brasília

O propósito era buscar uma recomposição do governo com sua base aliada no Congresso, mas o que o presidente de facto, Michel Temer, e os ministros da equipe de articulação política têm ouvido dos líderes partidários, nas últimas horas, são uma saraivada de críticas. Soma-se à insatisfação da ‘base aliada’ as recentes ameaças de um desembarque rápido dos tucanos, após a ordem unida do presidente de Honra da legenda, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Maia e Temer terão um encontro a sós, nesta tarde, para limar arestas

Os líderes aliados disseram, face a face com Temer e seus principais assessores que, depois de terem se exposto perante o eleitorado, ao votar pela rejeição de duas denúncias contra o peemedebista, não consideram possível votar agora a reforma da Previdência. Seria desgaste demais. E não estão dispostos a tanto por um governante chamado de ‘pato manco’, nos bastidores do Congresso.

Base dividida

Também se queixaram da impopular medida de privatização da Eletrobras e de suas concessionárias. Eles cobraram uma reforma ministerial para o final de novembro (enquanto o Executivo quer manter a equipe até fevereiro). Também exigiram providências para com o PSDB no Executivo – partido que votou dividido na última denúncia. Principalmente, agora, diante das ameaças de saída, em bloco, do governo.

A reunião, na noite passada, segundo parlamentares que estiveram presentes, demonstrou insatisfação da base; desde o início, com a ausência de alguns deles. Foi o caso de Artur Lira (AL), que atua na liderança do PP e José Rocha (BA), líder do PR.

— Não temos condições de votar a reforma da Previdência até 2018 — disse Lira, a jornalistas.

Sem reformas

Em busca de aparar arestas, Temer anunciou que a Medida Provisória (MP) referente à Eletrobras e suas subsidiárias não será mais encaminhada ao Congresso. Não na forma deste instrumento legislativo; mas por meio de um projeto de lei (PL). Este será protocolado na próxima quinta-feira.

Há toda uma diferença na mudança. Por meio de um PL, Câmara e Senado terão bem mais tempo para discutir a matéria. Poderão também apresentar emendas que ajudem a modificar (ou fatiar o texto). Sem falar que o texto precisará passar por várias comissões, das duas Casas.

O recuo foi uma forma de Temer afagar os integrantes das duas frentes parlamentares contra a privatização (muitos deles do próprio PMDB). E buscar, assim, apoio para a votação da reforma da Previdência. Mas o mandatário, imposto no golpe de Estado, em curso, ouviu dos deputados e senadores presentes ao encontro que, nas atuais circunstâncias, consideram praticamente impossível a base aliada conseguir 342 votos para aprovar uma proposta de emenda à Constituição. É o caso da PEC da reforma da Previdência.

Magoados

Temer, no encontro, falou sobre a necessidade de fazer ajustes para melhoria da economia. Dar uma “resposta ao mercado”, disse ele. Pediu, ainda, aos líderes para que estudassem a votação de ao menos uma parte do texto da reforma. Um dos que pediram a palavra, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que muitos deputados aliados ao governo estão “magoados”, por motivos diversos. Maia citou, entre esses motivos, a promessa de cargos feita desde a primeira denúncia e não cumprida até agora.

Conforme um dos líderes do chamado ‘Centrão’, partiu das legendas que integram o grupo – formado por PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, SD, PHS, Pros, PSL, PTN, PEN e PTdoB – cobrar pela reforma ministerial. Eles questionaram o que consideram “prestígio” do PSDB no governo em detrimento de siglas bem mais fiéis ao Planalto.

Questionaram o fato de que, hoje, os tucanos vivem divididos em relação a abandonar ou não o governo. Ao mesmo tempoj, ocupam três ministérios. E pediram a troca de titulares de duas pastas: o Ministério das Cidades (Bruno Araújo) e a Secretaria de Governo (Antonio Imbassahy).

Revogar decreto

Outra forma de amenizar as insatisfações dos parlamentares foi a promessa, feita por Temer, de que dará início a várias medidas voltadas para a segurança pública. O peemedebista, no entanto, nada prometeu em relação às trocas nos ministérios. Mas ficou de agilizar a liberação de cargos prometidos.

Enquanto Temer se reunia com os líderes da Câmara, por parte da oposição, a bancada do PT apresentou, na véspera, conforme tinha anunciado que faria, um projeto de decreto legislativo (PDC) para sustar a temporada de liquidação das sociedades de economia mista.

A medida foi publicada pelo governo na última semana, por meio do Decreto 9.188, que autoriza empresas controladas pelo Estado, como o Banco do Brasil, Petrobras, Banco do Nordeste e Eletrobras a vender seus ativos sem licitação.

— Isso é uma espécie de privatização camuflada. Trata-se de mais um decreto inconstitucional e criminoso” — disse o líder do partido no Senado, Lindbergh Farias (RJ).

Destruição nacional

De acordo com o senador “embora a Lei das Estatais autorize a venda de ações sem necessidade de processo licitatório, a mesma lei também exige a aprovação do Congresso para criação ou venda de uma estatal ou uma subsidiária”.

— O ato de Temer é mais uma etapa da destruição nacional promovida após o golpe de 2016 — acrescentou.

Os líderes e vice-líderes que participaram da reunião com Temer foram Aguinaldo Ribeiro (PP-PB); Aluísio Mendes (Pode-MA), André Moura (PSC-SE), Aureo (SD-RJ), Baleia Rossi (PMDB-SP); Beto Mansur (PRB-SP), Cléber Verde (PRB-MA), Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Laerte Bessa (PR-DF). Além de Lelo Coimbra (PMDB-ES) e Tereza Cristina (PSB-MS). Dentre os assessores, Imbassahy e Padilha. Estavam no Planalto, ainda, os ajudantes Henrique Meirelles (Fazenda) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).

A agenda para esta tarde, com parlamentares, estava confirmada. Desta vez, os líderes da base aliada do Senado. E, também, um encontro, a sós, entre Temer e o presidente Câmara, Rodrigo Maia.

 

Fonte: Correio do Brasil

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